Mulheres no setor WASH: basta ser convidada para participar?

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Tsehay Hassen, 15 anos, é aluna do nono ano e gostava de se tornar médica quando crescer. Degan Escola Secundária e Preparatória, Degan, South Wolo, Etiópia. 15 novembro 2016.
Image: WaterAid/ Behailu Shiferaw

Após as eleições de 2018 na Etiópia, um número recorde de mulheres ocupa agora posições de liderança no governo do país. Porém, as mulheres ainda lutam para subir na hierarquia noutros setores. Para marcar o Dia Internacional da Mulher, a diretora nacional da WaterAid Ethiopia, Bethlehem Mengistu, partilha lições sobre como ser líder feminina no setor de água, saneamento e higiene.

Fico muito feliz por assistir às mudanças fantásticas que ocorreram na Etiópia nos últimos meses, com as mulheres a assumir posições de liderança ao mais alto nível do governo. A melhor parte é que as jovens etíopes irão agora ver uma mulher presidente ou ministra como o novo "normal", não como uma exceção. Acho isso bastante inspirador!

Na minha área de trabalho – o setor de água, saneamento e higiene (WASH) – ainda não há uma percentagem considerável de mulheres em cargos de liderança. A participação das mulheres é mais frequente nas estruturas de gestão comunitária do abastecimento de água, onde há mulheres na equipa que gere o sistema de abastecimento de água. Isso é importante, pois a intenção é que ambos os géneros assegurem a sustentabilidade dos benefícios do sistema, mas também é importante garantir que tanto homens, como mulheres têm um nível de envolvimento idêntico. No entanto, ao nível do setor (ou seja, onde a política, os recursos e o planeamento são geralmente debatidos e decididos), há muito poucos elementos femininos nos processos de tomada de decisão.

Onde estão as mulheres?

Muitas vezes, sou uma das únicas mulheres líderes nas reuniões em que participo.

E quando surge a pergunta "por que não há mais mulheres presentes?", a resposta é, muitas vezes, "não há mulheres qualificadas suficientes".

Esta resposta não está certa. mulheres qualificadas, mas precisamos de uma reforma na abordagem do setor para chegar a essas profissionais. Por exemplo, organizações como a CARE Ethiopia obtiveram bons resultados reformulando todo o seu processo de recrutamento. A CARE reclassificou todas as suas descrições de trabalho, reanunciou cargos 1 a 3 vezes se nenhuma mulher se tivesse candidatado, foi à caça de talentos, instituiu um sistema de avaliação baseado em competências com um exame escrito (codificado de modo a que o painel não visse a que candidato correspondia) e avaliou e reconfigurou as perguntas da entrevista com base numa perspetiva de género. Isso fez com que a organização se aproximasse da paridade.

Lições de uma (mulher) líder

Dar às mulheres um lugar à mesa não é suficiente. Liderar num setor tradicionalmente dominado por homens implica um conjunto distinto de desafios, como depressa descobri:

  • Era, e ainda sou, a mulher mais jovem na maioria das reuniões do setor. Durante algum tempo depois de eu assumir o cargo de diretora, a maior parte das pessoas presumia que eu estava encarregada da parte administrativa ou da assistência, em vez de estar num cargo de liderança (até eu as corrigir). Não basta ter um cargo ou um lugar à mesa. Falar com confiança é importantíssimo (tenho um colega que defende o princípio de se "fingir até conseguir"). A maior barreira que eu e a maioria das líderes que conheço enfrentamos ao falar é o medo de sermos ostracizadas ou menosprezadas a temida "síndrome do impostor". Aprendi que o respeito existe quando se ouve alguém. Vi como as nossas vozes podem ajudar a moldar a política e a perspetiva. Escolho garantir que se sabe que estou presente enquanto líder, e esta deve ser considerada uma contribuição para o bem. Passaram-se quase três anos no meu cargo atual de diretora e agora, a minha voz é procurada; eu própria posso escolher ser exigente sobre a forma como colaboro com os outros.
  • Confiar na minha voz ao aprender a controlar a insegurança foi bastante trabalhoso, mas depressa aprendi a identificar padrões de pensamento negativo, a identificá-los pelo que eram e a treinar-me para confiar na minha experiência. Isto fez com que me manifestasse mais nas reuniões, procurando sentar-me sempre à frente e participando.
  • Celebrar sem qualquer problema não é tão fácil como parece. Sempre achei interessante que muitas mulheres em reuniões, quando se apresentavam, diziam o nome e, em seguida, o seu estado civil, enquanto os homens diziam o nome e, em seguida, o seu cargo. Isto está associado ao facto de que o tipo de conquistas a que a sociedade dá peso é aquele com que nos alinhamos de modo subconsciente, a fim de sermos aceites.
  • Encontrar companheiras para nos apoiarmos e celebrarmos mutuamente tem sido essencial para a minha confiança. Dado que a maioria dos problemas que enfrentamos, enquanto mulheres, é parcialmente semelhante, acho muito útil rodear-me de mulheres líderes que estão num percurso idêntico, com valores morais semelhantes. Uma das minhas mentoras é alguém que admiro profundamente, e dá-me um apoio inestimável.

Estou entusiasmada por este ter sido o ano em que as barreiras foram abaladas, e estamos a assistir a um melhor equilíbrio de géneros na liderança. Já somos convidadas para a festa; agora falta que o nível e as regras de envolvimento nela sejam também igualmente acessíveis.