Águas subterrâneas: a defesa negligenciada do mundo contra as alterações climáticas

Vista aérea de mulheres e crianças enchendo baldes e esperando sua vez em um poço, Ilha Chisi, Zomba, Malawi, outubro de 2020.
Image: WaterAid/ Dennis Lupenga

No Dia Mundial da Água, um novo relatório da WaterAid e do British Geological Survey revela como a maioria dos países em África tem reservas de água subterrânea suficientes para enfrentar pelo menos cinco anos de seca.

Há água subterrânea suficiente debaixo do continente africano para a maioria dos países sobreviver pelo menos cinco anos de seca — e para alguns, mais de 50 anos — de acordo com a nova pesquisa da WaterAid e do British Geological Survey.

O relatório —" Águas subterrâneas: a defesa negligenciada do mundo contra as alterações climáticas" — mostra que as águas subterrâneas, que existem em quase todo o subsolo, podem salvar centenas de milhares de vidas e ser a política de seguro mundial contra a alteração climática.

De acordo com o relatório:

  • A maioria dos países em África tem água subterrânea suficiente para as pessoas não só sobreviverem como prosperarem.
  • Etiópia e Madagáscar — onde só cerca de metade da população tem água limpa perto de casa — e grande parte do Mali, Níger e Nigéria têm água subterrânea suficiente para satisfazer a procura para os próximos 50 anos.
  • Cada país subsariano na África poderia fornecer a cada pessoa 130 litros de água potável por dia a partir de águas subterrâneas. Isso significa que as águas subterrâneas podem fornecer um amortecedor contra as mudanças climáticas por muitos anos, mesmo no caso improvável de não chover.

O relatório também explica que, embora a água subterrânea na África subsariana seja amplamente subutilizada, em outras partes do mundo – principalmente no sul da Ásia – o uso excessivo é comum. Isso, juntamente com a falta de regulamentação e o conhecimento e investimento insuficientes, muitas vezes leva a má gestão, contaminação e poluição — com consequências potencialmente devastadoras.

Noutras regiões, as águas subterrâneas estão naturalmente contaminadas com arsénio e fluoreto que podem levar a doenças ou até à morte. E tanto no Sul da Ásia como na África, as águas subterrâneas são vulneráveis à poluição provocada por fertilizantes e pesticidas de agricultura intensiva, a produtos químicos tóxicos da indústria mal regulada ou a esgotos de saneamento mal gerido.

O relatório sublinha a necessidade de aumentar o financiamento da água e saneamento para as comunidades marginalizadas através de uma percentagem fixa dos orçamentos anuais do governo e dos doadores internacionais e do setor privado. Salienta também que o investimento no desenvolvimento responsável das águas subterrâneas — e o conhecimento, experiência, financiamento e apoio institucional que isso exige — é fundamental para garantir água e saneamento salva-vidas, sustentáveis e seguros para as comunidades que vivem na linha da frente da crise climática.

Imagem do topo: Mulheres e crianças colecionam água num furo na Ilha Chisi, Malawi, outubro de 2020.