Como intensificar a nossa ambição? Reflexões do Fórum Mundial da Água
Heloise Chicou, Consultora em Saneamento e Água na Sanitation and Water for All/End Water Poverty, partilha as suas reflexões sobre os pontos fracos e os pontos fortes do 8.º Fórum Mundial da Água.
Embora tenha apresentado algumas inovações interessantes, o 8º Fórum Mundial da Água, em março de 2018, caracterizou-se pela baixa participação da sociedade civil global e pela falta de ambição e apropriação política.
Os pontos fortes
Cerca de 10 000 pessoas participaram do Fórum em Brasília, Brasil — o primeiro no hemisfério sul — e certamente houve uma discussão interessante.
A forte participação da sociedade civil brasileira levou a debates interessantes em torno dos povos mais marginalizados, principalmente no contexto das populações indígenas brasileiras, e discussões acaloradas sobre o papel que o setor privado deve desempenhar no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A apresentação de uma declaração dos atores do Fórum sobre sustentabilidade colocou forte ênfase na preservação e proteção dos recursos naturais e na busca de soluções baseadas na natureza para questões de água, saneamento e clima. Apresentarão esta declaração no Fórum Político de Alto Nível, em Nova Iorque, em julho deste ano.
Houve um forte apelo das organizações da sociedade civil para mais responsabilização em torno da implementação dos ODS, que foi particularmente retomada durante sessões dedicadas sobre políticas inclusivas e durante a apresentação de Saneamento e Água para Todos e o lançamento do seu mecanismo de prestação de contas. Isso também se refletiu na declaração ministerial do Fórum, “Chamada urgente para uma ação decisiva sobre a água”.
Os pontos fracos
No entanto, a participação da sociedade civil de outras partes do mundo foi baixa e dececionante em comparação com o que foi anunciado de antemão. Apenas cerca de 10% do número limitado de sociedade civil patrocinada para participar do Fórum recebeu os fundos a tempo de poder participar.
ONG e movimentos sociais brasileiros organizaram um fórum alternativo — Foro Alternativo Mundial de Agua (FAMA) — em protesto contra a inacessibilidade da WWF8 aos pobres, condenando a WWF8 como um encontro “elitista”.
Em geral, as declarações do Fórum não superaram as dos Fóruns anteriores em termos de impacto político e apropriação governamental. A declaração ministerial não forneceu a lista de signatários e permanece sem vinculação.
O destaque
O que me chamou a atenção foi a Declaração dos Juízes de Brasília sobre Justiça da Água. A declaração reuniu cerca de 80 magistrados de diversos continentes ao adotar um comunicado esclarecendo como os princípios das leis ambientais (prevenção, precaução, poluidor-pagador etc.) podem ser aplicados à água e mobilizar as autoridades judiciais. Esta foi uma iniciativa verdadeiramente inovadora, relevante para defensores de direitos humanos e ativistas ambientais, e para nosso objetivo comum de pensar e chegar fora da caixa.
O Fórum deu as boas-vindas a uma importante delegação do Governo senegalês – o Senegal será o anfitrião do próximo Fórum daqui a três anos. Esta será uma oportunidade interessante de envolvimento, pois o Senegal é um ator influente na África e especialmente na África Ocidental, e deseja adaptar o Fórum a questões mais específicas e concretas.